noct de Diogo Simões
Em noct, Diogo Simões (Miratejo, 1988) lançou-se num exercício de descoberta visual à volta do que o inesperado e o acidental têm para oferecer. É um trabalho pelo de afectividade, que revela um conhecimento particular, uma cumplicidade com os lugares na penumbra, espaços onde o fotógrafo se sentiu livre e onde foi capaz de traçar uma gramática pessoal de movimentos.
Levado por uma prática de deriva serendipitosa (sagaz, aberta e capaz de incorporar múltiplos caminhos), Diogo Simões percorreu ruas e bairros (primeiro em Miratejo e depois noutros lugares) que lhe deram o que não se procura, se lhe mostraram o que não se revela de forma óbvia. Para tropeças nestas imagens "inesperadas", que parecem disponíveis ao virar da esquina, não basta estar atento. É preciso ter talento, e um domínio especial que seja capaz de transformar o acaso em descoberta. E é isso que Diogo Simões tem - uma capacidade serendipista de encontrar imagens.
not não revela estados de euforia, espectáculo e choque, antes estados de melancolia, manifestações de afecto e hinos à lentidão. Nele há também uma rara manifestação de resistência pela imagem fotográfica. É um trabalho sobre o esquecimento (de outras paisagens, de outras centralizadas, de outros rostos). Funciona como uma agulha que nos pica. E que nos lembra como gostamos de esquecer.
Por estas imagens percebe-se que Diogo Simões inventou para si um jogo. Só que antes de começar a jogar decidiu rasgar as regras. É uma partida que prefere o risco à segurança. O tabuleiro pode chamar-se deriva ou devaneio. E a nossa sorte é que ele nos deixa vê-lo jogar.
texto de Sérgio B. Gomes
noct de Diogo Simões é uns trabalhos que esteve em exposição no Museu do Neo-Realismo integrando a programação da Bienal de Fotografia 2014 de Vila Franca de Xira.
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