Inauguração Galeria Pedro Alfacinha - Exposição Veneto de Guido Guidi


Lisboa conta com mais um espaço dedicado à arte, com especial enfoque na fotografia. Pedro Alfacinha, que ajudou Michael Mack a fundar a editora Mack encontra-se agora em Lisboa e promete apresentar na sua galeria o melhor da fotografia contemporânea portuguesa e mundial. 
No passado dia 25 de Setembro o espaço foi aberto ao público, decorreu uma pequena festa preenchida com imensas pessoas que foram passando pela galeria. O espaço foi inaugurado  a exposição Veneto que reúne um conjunto de fotografias de Itália nos anos 80 de Guido Guidi.  
O trabalho vai estar exposto até ao proximo dia 8 de Novembro. Para além da exposição é possível encontrar na galeria diversos livros da editora Pierre Von Kleist, assim como algumas fotografias de Diogo Simões, André Principe e José Pedro Cortes.  

Rua de São Mamede, 25c, 1100-340 Lisboa



Fotografar = Habitar. Umas equação recorrente no trabalho de Guido Guidi. É por isso que grande parte das suas imagens são feitas nos lugares que ele mais frequenta: Emilia Romagna, região do norte de Itália onde nasceu e ainda vive, e Veneto, região vizinha, onde primeiro estudou (design industrial e arquitectura) e hoje ensina na mesma universidade. O resultado é uma combinação original de dois elementos aparentemente discordantes: análise e afecto. Como o primeiro tende a prevalecer sobre o segundo (tal como o amargo sobre o doce ou o preto sobre o branco), seria um erro simples considerar as suas fotografias frias e descompremetidas. Não é assim. A prevalência de linhas rectas, o equilibro das suas cenas e o cuidado até com o mais insignificante dos detalhes, não devem ser lidos como um desapego pelos assuntos mas, pelo contrário, como uma forma de melhor os descrever. A precisão é aqui, acima de tudo, consequência de uma relação íntima. Só depois se torna uma questão política: o inevitável respeito pelas coisas em si. Guidi não se limita a habitar os espaços representados pelas suas imagens, independentemente de onde são feitas, ele habita as suas próprias fotografias, é a sua visão que estabelece as suas fundações. O enquadramento corresponde ao processo de delimitação de perímetro inerente a qualquer forma de residência. O exterior transforma-se no interior, e o espaço geométrico é organizado de acordo com as preferências do habitante: tal como numa casa.

O Monte Grappa, representado em várias fotografias desta exposição, é um caso muito particular. Para além das bases militares que aparecem nestas imagens, que aqui mais parecem primitivas habitações cavernosas, no cume do monte existe realmente um ossuário com os restos mortais de mais de 12 000 soldados. Aqui travaram-se algumas das mais violentas batalhas na Primeira Guerra Mundial. As fotografias retratam-no como sempre foi, sever, branco de calcário, a natureza entrelaçada com os vestígios do Homem. No trabalho de Guido nunca vi a natureza representada de outra forma. Seja por modéstia ou interesse, no seu trabalho a natureza nunca é monumental, carrega inevitavelmente as cicatrizes de quem a atravessa, explora, preserva ou habita. São estes sinais comuns, vernaculares, que o fotógrafo isola e documenta no Monte Grappa (os túneis, as mensagens, rastos que transformam a História em tantas outras pequenas estórias) e também nas vilas vizinhas ao maciço, onde todas as outras imagens nesta selecção foram feitas no início dos anos 80. Ainda na região do Veneto num pequeno território a pouco mais de 70 quilómetros da capital, Veneza, que aqui parece estar a anos luz de distância. Aqui não há turismo, nem gôndolas, nem maresia. Só aqueles planos de mia distância que vieram a caracterizar grande parte da fotografia de paisagem italiana nos anos que se seguiram (enquanto Guido se foi aproximando dos seus temas), assim como varias homages (à Arte informal, a Friedlander,etc..) e toda a discreta intensidade do dia-a-dia.

Francesco Zanot, 4 de Setembro de 2014
texto que acompanha a folha de sala














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