Edgar Martins - The Time Machine
29.3.14 expo , exposições , novidades 0 Comments

The Time Machine, série fotográfica que Edgar Martins expõem na mostra individual apresentada na Sala Rostrum do Fórum Eugénio de Almeida, é fruto da sua intensa pesquisa, realizada durante quase dois anos, sobre as barragens e as centrais hidroeléctricas portuguesas, a maioria construída entre 1920 e 1970. A monumentalidade dos sues espaços interiores - corredores, túneis, salas das turbinas, salas de máquinas - e a extensão da paisagem exterior contrastam com a plasticidade e o detalhe de pequenos objectos - ferramentas, botões, peças. Comum a todas as imagens é a sua observação escrupulosa, purista, das formas arquitectónicas, naturais e materiais, captadas em momento de completo isolamento.

A edificação destas imponentes 'catedrais' enfatiza a estrutura em detrimento da figura humana, completamente ausente desses espaços, embora todos eles sejam produtos ou resultados das intervenções ou acções humanas. Esses ambientes fotográficos industriais, eximidos de vida, enquadram-se na linha conceptual e visual trilhada pelos renomeados fotógrafos Bern and Hill Becher, a partir da década de 1960 - com vasto trabalho quase arqueológico de documentação de um determinado tipo de património industrial - , segura pelos seus alunos da Escola de Dusseldorf, que se dedicam aos grandes formatos fotográficos.

As articulações dicotómicas entre interior e exterior, passado e presente, espaço industrial e natureza, dimensão macro e micro, formas arquitectónicas orgânicas, mas inertes, máquinas pesadas e pequenos utensílios são, no seu conjunto, peças de uma metanarrativa, que remete para uma reflexão mais abrangente sobre a era moderna industrial e o nosso contexto pós industrial atual. A mão de obra fabril foi paulatinamente suprimida dos processos de produção cada vez mais automatizados, desfazendo as esperanças existenciais humanas, depositadas na utopia do progresso.

Como momentos suspensos no tempo, as fotografias de Edgar Martins cativam pela sua precisão estética e pelas várias camadas de leituras e informações sobre uma temática que embora específica, assume conotações universais, com raízes profundas na memória coletiva em processo de extinção.

texto de Claudia Giannetti